quarta-feira, 13 de abril de 2011

O curso


Um homem andando, mancando de uma perna, sobre uma calçada a alguns metros de distância de você. Uma pessoa cavando um buraco, ao longe, fazendo seu trabalho, focado e sem imaginar que alguém o observa.
Um pássaro voando livre, desimpedido, sem rumo e sem limitações. As folhas amarelas daquela árvore a balançar. Um transeunte qualquer, em roupas casuais, a caminhar à distância.
Não é incrível com a vida segue seu curso, despreocupada? Observando ela passar, tenho a sensação de que vejo um formigueiro. De longe apenas pequenas formigas cumprindo seu papel, sem preocupações, sem pensamentos, sem complicações.
Mas nós sabemos que não é assim. A vida tem suas complexidades sob a forma da simplicidade, isso é fato. É como olhar aquela formiga e perguntar “Será que ela está contente em trabalhar assim? Será que ela não se importa de viver toda sua existência fazendo a mesma coisa? Será que ela vai viver quanto tempo?”
            “Nós existimos. Simplesmente existimos.” Bem que eu queria que fosse assim. A verdade é que vivemos, não apenas existimos. Por baixo do véu da tranqüilidade daquela pessoa que você admira há uma infinidade de lutas internas, um milhão de conflitos que não a deixam dormir, pensamentos que rolam e rolam e a fazem perder minutos preciosos de sua vida, simplesmente porque não consegue calá-los.
            Gostaria de apenas observar a vida, mas não me contento em não questioná-la. Às vezes acho até que isso é um problema, que não pode ser normal. Mas algumas pessoas também não imaginam que eu passo por isso.
            Só sei que talvez eu nunca chegue a compreender nada. Quando acho que sei, me provo errado. Quando acho que estou errado, a vida me prova estar certo. A vida é complexa, é confusa. Dores que causam alegrias, alegrias que se transformam em tristezas, momentos que idealizamos em nostalgias, mas que nunca foram realmente daquele jeito.
            Eu só queria parar de pensar. Queria curtir mais a vida. Queria ser uma pessoa melhor. De nada adianta, porém, eu escrever e reclamar, pois a vida, por mais complexa que seja, continua seu curso. Me resta apenas acompanhá-la, sabe-se lá o que me aguarda nesse caminho. Afinal, o que eu queria mesmo, é parar de querer, porque isso está me deixando louco. Deus, dai-me forças, por favor.

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