quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tão pouco tempo, mas tão essencial...

Para mim, relacionamentos nunca foram tão importantes. Sempre me chamei de desapegado. Em minha mente eu era forte, não choraria no enterro de ninguém, não sentiria saudades de ninguém e assim por diante. E assim sempre foi, até que a vida veio me dizer que eu estava enganado.
Me mudei, me distanciei de minha família e meus amigos. No início eu não sentia falta, estava muito bem no meu novo endereço, obrigado. Tolice! Bastou uma unica viagem de volta para eu ter minha primeira decepção. Minha felicidade continuou lá, enquanto eu tive que voltar a força para minha nova vida. Ah, como muitas coisas, as quais eu não dava valor antes, eu senti falta, quantas risadas com meus amigos que eu não pude dar...
Mas a vida é dura para quem é mole. Então tive de me acostumar. E assim foi, até perder tragicamente um grande amigo. Ali, minha teoria do desapego sofreu mais um terremoto.
E então uma outra grande pessoa se foi, em menos de dois meses. E lá se foi minha teoria mais fundo ainda.
Mas, ainda assim, eu acreditava ser desapegado. Desculpem-me minha humanidade em achar que eu era uma Ilha.
Não bastassem os laços com o meu querido velho oeste, eu acabei criando laços com pessoas daqui, também. Uma em especial.
Certa vez ela me mandou um depoimento no qual dizia: "Tão pouco tempo, mas tão essencial...". Acho que eu fiquei tão feliz na ocasião que nem me dei conta da grandeza do que ela dizia.
São raras as vezes em que encontramos pessoas que se encaixam tão facilmente em nossas vidas, que compartilham de certos gostos, certas habilidades, que nos fazem feliz apenas em ver sua janelinha do msn piscando ou, ainda, que fazem um longo e cansativo dia ser esquecido em 4 horas de risos e "danças". Tudo bem, talvez não sejam raros, mas sim únicos.
Tão pouco tempo... E de pensar que eu estaria assim por uma pessoa que eu só vi uma vez. Alguém que eu conheci por acaso, na maior coincidência do mundo.
Tão essencial... Ah, como isso é verdadeiro. Eu já sabia que gostava de passar meu tempo com ela, mas só hoje me dei conta que minhas estimativas de quanto eu gostava estavam erradas, afinal.
Agora, ela está sofrendo e eu também. Ela pelos seus motivos e eu, por não poder ajudar, por não poder conversar com ela, por não estar AO LADO dela.
E onde está minha teoria do desapego? Acho que não existe mais. Ou melhor, existe, afinal eu sou teimoso. Mas hoje sei que ela admite excessões. Ela (você) quem me ensinou isso.
Me ensinou também que pessoas daqui também são legais, que mostrar a língua pode ser uma coisa bem diferente de uma ofensa, que uma tristeza produz grandes feitos, que escrever é legal, apesar de tudo (e como você escreve bem!) e que tempo não significa nada.
Pois eu digo: somos sim ilhas, mas ilhas de um arquipélago. Acho que já ouvi isso num filme, mas agora entendo como é verdadeiro. Mas por se tratarmos de ilhas, às vezes, a ressaca nos afasta e é aí que vemos o quanto somos incompletos uns sem os outros.
Um carinho tão grande... Talvez você não tenha pensado no significado disso, mas te garanto que é maior do que qualquer coisa que você tenha imaginado e que me faz triste não poder conversar contigo, não ouvir notícias suas e que me deixa com um sentimento de culpa por algo que nem sei se fiz, porém que me corrói por dentro.
Quero ver você sorrindo de novo, quero ver você me mostrando a língua, brincando, feliz... E isso, como já disse, independente do que você precisar para sê-lo. Na realidade, eu simplesmente quero que esse vazio passe e que eu não sinta mais sua falta. Por favor, volta?

sábado, 26 de junho de 2010

O radio na cozinha

Era uma manhã como qualquer outra de domingo. Eu estava dormindo, quando de repente fui acordado por uma música estranha, não porque estava alto demais, simplesmente me acordou. Comecei a me concentrar para identificar aquela música: era italiana, tão típica como se lá eu estivesse. Aí que me recordei de onde estava. Aquelas paredes de madeira, aquela cama grande e macia, aquele ambiente tão amado. Eu estava na casa do "Nono Pedro" e era ele quem havia ligado o som, como sempre fazia todos os dias, desde que me dou por conta.
Animado, levantei e lá estava ele, com um sorriso a me receber, seus pés virados para seu fogão a lenha (costume dele), esquentando-os naquele dia frio de inverno das férias de julho. Sobre a mesa uma fartura típica de famílias descendentes de italianos. Eu me sentia muito feliz e seguro ali.
Há dois anos atrás teve um derrame e perdeu o movimento das pernas e de um braço. Mas isso não o deteve, pois ele continuou lutando (e acordando cedo aos domingos para ouvir suas músicas prediletas).
Daquela vez, me lembro como se fosse ontem, eu estava dormindo na sala, quando começou um alvoroço naquela humilde residência no meio do nada, no interior do interior. Fiquei preocupado, pensei que a hora tivesse chegado. Felizmente eu estava errado. Mas naquele domingo não houve rádio ligado...
Pois então continuamos nossas vidas, felizes pro tê-lo, mesmo que debilitado, ao nosso lado por mais tempo. O dia em que eu passei na UFSC ele estava lá e, feliz, me parabenizou por mais esta conquista. O Nando, como ele me chamava, estava indo embora, estudar na Federal.
E eu vim, e forçosamente tive de me distanciar. Agora não ia mais todo mês para lá e quando eu ía era apenas nos domingos. Já não ouvia mais aquele tão querido rádio nas manhãs de domingo.
Mas daí eu tinha outra felicidade. SEMPRE, independente da ocasião, que íamos para lá, meu querido avô sempre estava em sua varanda, nos esperando em sua cadeira de rodas, e quando eu chegava para cumprimentá-lo me puxava num abraço demorado para perto dele. Naquela época eu não sabia o quão importante isso seria para mim algum tempo depois.
Foi na última páscoa, primeiro grande feriado do ano, em que eu o vi pela última vez... Fomos "no Nono" e, como sempre, lá estava ele na varanda e com um grande abraço me recebeu. Foi um dia bom, a família reunida, o carinho de sempre, aquele sentimento de segurança e felicidade...
- Eu sonhei que meu amigo me dizia que depois desta páscoa eu iria morrer. - disse ele entre um momento de risos. Pobre coitado, foi xingado. "Não diga besteiras!" replicaram todos. Ah se soubéssemos...
Isso passou e ninguém deu importância. Eu muito refleti nisso, devido a minhas crenças, mas desacreditei, também.
Nas várias ligações que recebia de casa, às vezes recebia uma notícia como "O Nono não anda muito bem". Mas nunca pensei que ele REALMENTE não andava muito bem.
Em uma sexta como qualquer outra, às 17h de um dia normal, eu recebi uma ligação dizendo que "se eu quisesse" era para pegar um ônibus e ir para casa que meu avô não aguentaria nem aquela noite. Gelei.
Saí correndo da academia e corri desenfreadamente para a rodoviária e lá esperei das 19h até as 23:45 pelo único ônibus disponível. Quando pus meu pé dentro do veículo, foi quando meu celular tocou e recebi a notícia que tornaria aquele o fim de semana mais triste do mundo.
Pensei que eu não poderia ficar pior, mas quando entrei e vi meu "Noninho" dentro daquele caixão, meu mundo desabou. Foi um sábado triste, de muito choro, muitas lembranças e muito carinho. Eu não pude me despedir de meu avô, mas sei que ele ouve minhas orações constantes. Também sei que ele está num lugar muito melhor, ao lado do amigo dele e perto do Zago, outra grande pessoa que recentemente partiu. Mas o vazio fica e a saudade, enquanto vivo, jamais será sanada.
Ainda vou continuar relembrando episódios que me farão rir e chorar logo em seguida. Vivi apenas 20 anos ao lado dele, mas que foram suficientes para despertar um carinho sem par. Meu último avô vivo se foi, mas deixou sua marca em meu peito.
Nono Pedro, eu te amo. Sei que por muito tempo não ouvirei mais aquele seu radio ligado na cozinha de sua casa, mas me aguarde, porque um dia quem vai até aí te dar um abraço bem demorado, sou eu.

Em memória aos 70 anos de idade, 50 anos de casado, 20 anos ao meu lado, como meu avô, e 1 semana de falecimento de Pedro Martins Bugança.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Passado, no Futuro

Esse feriado eu finalmente vim para casa, depois de longos dois meses longe da minha amada terrinha. Confesso que muito me alegrei, muito saí com meus amigos, muito tempo passei com meus pais, muito matei minhas saudades, mas o mais importante: muito refleti.
Minha casa está em reformas, e várias coisas foram modificadas. A sacada acima da garagem, onde várias tardes eu deitei, onde por diversas vezes sentei para observar as colinas distantes, a paisagem verde típica do local onde moro... Bom, onde antes havia aquela sacada, agora há um telhado.
A outra sacada, onde incontáveis noites eu deitei, ouvindo minhas músicas favoritas, observando o céu e o horizonte, beneficiado pelo fato dela não ser coberta, agora não é mais assim... Agora há quatro pilares obstruindo o horizonte e um pequeno coberto por sobre ela...
No terreno abaixo, pertencente a minha avó, onde inúmeras vezes eu brinquei, subi nas árvores, caí, ri e cresci subindo e descendo, agora está descuidado e coberto de mato. Confesso que pensei duas vezes antes de desbravar aquela terra tão conhecida por mim antigamente. Onde antes haviam cavalos e bovinos, agora há só grama alta e samambaias, salvo exceto por um grande trecho de plantação pelo qual eu caminhei e observei. Tudo estava diferente de como eu me lembrava, afinal há muito tempo, por ali, eu não andava.
Sei que parece meio tarde para lamentar pelas perdas, mas é quando perdemos nossas preciosidades que aprendemos a valorizá-las. Ao menos o terreno de minha avó será recuperado em breve. Infelizmente, por mais que eu tenha discutido com meus pais, a cobertura da sacada permanecerá.
Mas o que eu mais gostei dessa viagem foi o modo como eu percebo as coisas. Só agora eu vejo o quanto eu sou feliz e agraciado por tudo que me cercava, de como tudo convergiu para me tornar a pessoa que eu sou e mesmo a história de meus antepassados remonta a momentos perfeitos como este em que estou vivendo.
Algo que venho reparando é que o Passado sempre vem ao meu encontro, me corrigindo quando desvio de meu caminho e me auxiliando a progredir. É com o que aprendi com ele que construo meu futuro.
Cresci num mundo a parte, um mundo ideal. Sei que é difícil, ainda mais quando observo de fora, mas as mudanças estão aí. Na realidade elas nunca deixaram de acontecer, é que agora me parece mais difícil de aceitá-las. Talvez seja algo que vem com a idade, eu não sei. Tudo que sei é que esse fim de semana me fez ver mais ainda o amor que sinto por este lugar e, muito mais, por TODA a minha família.
E você? Já parou pra pensar em tudo que aprendeu no lugar que cresceu e tudo que sua família veio a te acrescentar?