sábado, 10 de dezembro de 2011

No Ceiling


Essa é a história de um pequeno garoto que sonhava com o mundo. Um garoto que deitava todas as noites, quentes ou frias, em sua varanda propositalmente descoberta e observava o céu.

Ele achava incrível como as estrelas brilhavam tanto e em como existiam em imensa quantidade, algo que só um local afastado da 'civilização', como onde ele morava, seria capaz de proporcionar.
E enquanto presenciava a beleza do infinito, em como era mágico contemplar o nada, filosofava sobre seus sonhos. Queria ir longe, conhecer todos os lugares possíveis, queria conhecer várias pessoas, ir alto, queria ver o mundo do topo.
Também queria ajudar o próximo, dar de comer na África, fazer o bem ao próximo, fazer sua cidade crescer e se desenvolver.
Este pequeno jovem cresceu e teve de partir. Foi jogado aos leões. Teve de se adaptar aos padrões da evolução e ao consumismo desenfreado dele. Porém não demorou para começar a questionar as coisas. Por quê assim? Por quê daquele jeito? Por que? Por que?
E os leões começaram a assustá-lo e mudar seus pensamentos. Talvez esta fosse a realidade, o mundo não era infinito como seu céu e ele tinha que aceitá-la. Seu infinito virou a caixa em que vivia, junto de diversas outras caixas, todas com suas vistas limitadas. Suas estrelas foram ofuscadas pela luz do século atual. Sua paz evoluiu para um dia, um sábado, que era o único momento que lhe proporcionava tempo para respirar.
Mas a caixa começou a sufocá-lo. A fraca cópia do céu começou a irritá-lo. E os leões já não mais representavam uma ameaça. De repente as correntes haviam sido soltas. Restava apenas descobrir o meio que seria justificado pelo seu fim. Fim este que curaria a doença suja que havia desenvolvido em seu tempo de reclusão.
Essa é uma história de um pequeno garoto que sonhava com o mundo. Mas também é a história de um prisioneiro que foi libertado de uma pena por um crime que não havia cometido, que revê a luz do sol, o brilho das estrelas e respira o ar puro do lado de fora pela primeira vez em muito tempo. É o conto de um pequeno garoto que cresceu e tornou-se um adulto. 
E este adulto? Ele veio ao mundo para fazer o que tem que ser feito.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Luiz tem uma boa vida

Luiz tem uma vida muito boa. Bom trabalho, boa universidade, boa educação, bom salário e bons relacionamentos.
Todos os dias ele acorda cedo, toma seu café da manhã, seu banho matinal, corre para pegar os mesmos dois ônibus, chega no trabalho e faz suas atividades durante todo o expediente. Em seguida, pega os mesmos dois ônibus para a faculdade, onde senta por quatro horas ouvindo pessoas que detém um grande conhecimento e o passam para ele através de aulas expositivas. Enquanto um burro fala, o outro baixa a cabeça.
Luiz então segue para sua academia, fazer seus exercícios diários. Não se pode deixar de fazer exercícios. Lá se vão mais duas horas de seu dia, como um hamster de estimação em sua gaiola.
Nem sempre ele consegue tempo para estudar, nem sempre ele consegue tempo para fazer as coisas que quer, mas sempre está em suas redes sociais, em contato direto com seus amigos, conversando, brincando, rindo, sem nunca vê-los pessoalmente.
Do amanhecer do dia até o apagar das luzes na hora de dormir, ele está rodeado de computadores e sistemas inteligentes como o seu celular. Agora todos podem saber onde ele está e o que ele está fazendo.
A vida de Luiz é muito boa, ele tem tempo para aproveitar várias festas, onde se distrai da rotina e faz algo de diferente. O pão está servido e o circo montado.
Seu dinheiro nem sempre dá para o mês todo, mas não importa, o crédito é fácil. O que importa é gastar, tudo para fugir da rotina.
Ele também realiza provas, onde tem que colocar exatamente a resposta que seu professor quer. Pensar? Para que? Filosofar sobre a origem das coisas? Só na aula de filosofia, mas mesmo assim não é o que seu professor pede em seus testes.
O jovem sabe que a matemática não é exata, mas sim uma invenção do homem para controlar coisas. Ele utiliza somente um método de cálculo, o ensinado por seus professores, apesar de saber que existem mil outros que eles não repassam. A resposta? Deve ser do jeito como foi ensinado, porque é o correto, o cientificamente correto.
Ah a ciência. Toda baseada em experimentações, tão... exata. Tão exata que não sabe explicar por que os homens são da forma como o são, pensantes, inteligentes. Que não sabe explicar por que usamos apenas 10% do cérebro e quais as outras capacidades dos 90% restantes.
Ele sabe que cada pessoa vê o mundo de acordo com suas características físicas. A mesma mesa pode ser mais fria ou mais quente para pessoas diferentes. A árvore mais verde ou mais escura, mais detalhada ou mais desfocada. Mas não, existe um correto para tudo, isso que ele aprende na sua universidade.
Mas é normal da sua sociedade. Organização de pessoas esta, que se baseia em regras, que se baseia em valores (?), em julgamentos, em preconceitos e impressões pessoais. Mas que funciona.
Luiz tem uma teoria. Ele acha os seres humanos incríveis, afinal conseguiram criar um mundo fictício e transformá-lo em realidade, realmente acreditar que ele existe, mas que quando veem alguém que está deslocado deste mundo, sabem como isolá-lo e evitar que contamine mais pessoas.
Mas é o mundo em que vive. Um mundo colorido, que se esconde atrás de um preto e branco de filmes antigos americanos. Um mundo onde você é livre, mas não consegue ir até a cidade mais próxima a sua apenas por livre e espontânea vontade. Um mundo surreal, que se diz real e que busca entretenimentos surreais para compensar as tristezas de uma rotina que se diz natural, mas que foi inventada pelos homens.
Luiz tem uma vida muito boa. Bom trabalho, boa universidade, boa educação, bom salário e bons relacionamentos. Boa vida essa que Luiz tem.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Não é bem assim.

Começa lá cedo, nos nove meses que ficamos dentro da barriga de nossa mãe. O que seremos? Menino, menina? Nos transformaremos em um grande médico, uma executiva de sucesso, um famoso chef de um restaurante bem conhecido, uma arquiteta de sucesso?
Então crescemos e as especulações continuam. Podemos ser o que quisermos, podemos ter o que quisermos, basta querer. Dizem que os sonhos são para ser conquistados. E realmente vemos isso, nos filmes, nos desenhos, nos livros. Já pensou o dia em que uma fada madrinha aparece para você e realiza seus sonhos? Ou quando você é selecionado para formar um time de elite que combate o mal e comanda robôs? Tenho certeza de que um dia isso vai acontecer.
Mas aí você cresce mais um pouco, e começam os primeiros sinais. "Não é bem assim, meu querido" dizia sua mãe. "Você tem que estudar para ter um bom emprego." justificava seu pai. E onde entram os sonhos? Quando poderei ser astronauta? E chef? "Não dá dinheiro isso" dizem outros.
Alguns desistem por aí já. Em sua plena juventude. Mas se você for como alguns, simplesmente ignora tudo isso.
Então você cresce mais e aos onze já escreveu um livro, e desenhou diversas histórias em quadrinhos de super heróis, além de arquitetar diversas casas. Seu sonho é ser um grande artista, escritor, arquiteto...
Então você escreve mais um livro, e ganha mais sonhos. Você quer viajar, quer conhecer outros lugares, quer estudar em faculdades de renome... Lá vem a vida e te retribui com risadas. "Você não tem capacidade, não do jeito que você é". E isso martela em sua cabeça, de novo, e mais uma vez. Só que sua memória é boa, e isso é um sonho. Uma vez te disseram que eles são possíveis. Você ignora a vida, e acredita em você.
Então as respostas saem e você consegue o que queria. Mas não do jeito que pensava, então talvez os outros tivessem razão, não é bem assim. A vida te deu um pontapé, mas você nunca aprende.
Nesse tempo de tristeza você criou novos sonhos, e vai atrás deles com afinco. "Que graça tem viver sem sonhos?" pensava você. Larga-se tudo, muda-se de endereço, e lá vem uma nova decepção. 
"Vocês nunca serão ninguém", dizia seu professor. "Eu não consigo fazer tudo de novo e mudar" dizem seus colegas. Mas não você. Você enfrenta tudo, sai de sua decepção e... Consegue de novo.
De repente tudo muda! Mais sonhos aparecem em seu horizonte. Lá vai você, iludido por imagens que surgem em sua mente, por ideais que mudariam um cenário, que melhorariam todo um ambiente, até que...
"Isso não pode.""Isso não vai dar certo.""Desista". Poxa, cade aquele papo que quem corre atrás de seus sonhos conseguem?
Estaca zero novamente.
E com ela a decepção, a tristeza, a depressão. Será que nada dá certo? Talvez os outros tenham razão.
Mas por que não aceitar este triste destino? Talvez a vida seja mesmo uma grande decepção, quando algo parece dar certo, ela vem e te tira de sua alegria, só para ver você sofrer mais um baque e ficar remoendo suas infelicidades.
Mas e Abraham Lincoln e sua história? Einstein e as pessoas que o chamavam de louco? E aqueles filmes antigos que você vê, que tanto incentivam esses tais sonhos? E aquele clipe, com aquela letra enigmática, feita para você, que surgiu justamente no momento em que você estava mais triste? De repente, tudo vai dar certo.
Lá vai você de novo, novos sonhos, novas conquistas. Agora você é um empreendedor, tudo dá certo. Mas não é somente isso que você quer agora, quer mais, sonha mais alto. Você quer melhorar a vida das pessoas, você quer fazer uma diferença.
Daí presencia a corrupção, a troca de favores, o mundo sujo em que vive. Lá vem a vadia da vida te barrar novamente.
Que mundo é esse no qual as coisas boas sofrem para acontecer? Até quando você tem que lutar para alcançar os seus objetivos, os seus sonhos? A que custo você consegue alcançá-lo? Será que realmente valem a pena?
"Pronto, vou desistir." pensa. Está tudo bem agora, sua consciência está limpa e você acredita que conseguirá seguir com essa vida de decepção, tirar o melhor dela e aguentar até o fim. Antes fosse assim.
Os sinais da vida, essa provocadora, esbarram na sua frente o tempo inteiro. É como se ela quisesse te decepcionar de novo, mas talvez dê certo agora. Será que se eu fizer dessa maneira vou conseguir? E daquela outra?
Planos, planos e mais planos. Aqui vamos nós novamente.
A vadia da vida, agora é sua amiga. Você não gosta de ter um futuro incerto, não faz parte de sua perspectiva nem de seu caráter. E você acredita que, apesar de todas as mudanças que sofreu, pode ser uma mistura de tudo isso. Sim, dará certo. O que não pode é voltar a ser como antes, isso tudo é uma evolução. Claro!
Você poderia ter desistido lá no início, quando seus pais disseram que não era como imaginava. Mas e daí? Monteiro Lobato não descreveu um computador em um de seus livros de 1920? Também diriam que era impossível, de volta àquele tempo.
As decepções vão te perseguir a vida toda, tendo sonhos (ou ilusões, como alguns chamam) ou sendo um acostumado com a vida sem objetivos. O que importa é o que você vai fazer delas.
Seja forte, seja persistente. Lute, com todas as suas forças. Teimosia deve ser o seu lema, e a inovação o seu motor. Faça diferente, ignore quando dizem que não.
O que separa os que conseguem, dos que não o fazem é o que você acredita. Já disseram ao Steve Jobs que não era possível. Mas ele não deu ouvidos.
Disseram que o Obama não ia ganhar as eleições. Ele ganhou.
Já te disseram que você não passaria no vestibular. Que você não conseguiria aquele trabalho, mas não tinha problemas. Que você não passaria naquela matéria, mas poderia refazer no semestre seguinte. Que não era possível fazer isso ou aquilo naquela cidade, que não tinha futuro. Que uma hora ou outra você ia perceber que não era como imaginava, e desistiria...
O impossível está na mente de quem o vê. Se ter sonhos é ser ignorante, já dizia o velho dito popular: A ignorância é uma benção. Chris Gardner que o diga.