quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Intensidade.

Intensidade.
Sente a força dessa palavra? Consegue imaginar seu corpo se mexendo, seus fios arrepiando, seus olhos iluminando?
Quem não gosta de algo intenso, como um amor?
Abraçar, pegar pelos cabelos, sentir o cheiro profundo de perfume no pescoço daquela pessoa, bejar com paixão, querer fugir juntos para sabe-se lá onde.
Intensidade é uma sensação que vai crescendo aos poucos, que vai contaminando, que vai te pegar no momento mais desprevenido. Ela é como um vírus, vai passando de pessoa para pessoa, mas precisa ter surgido de alguém em algum ponto.
O ser que criou o tudo e o todo, quando estava em seu processo, deve ter jogado essa sensação para tornar as pessoas mais espontâneas, para tornar os amores mais vorazes, os dias mais tolerantes e as alegrias mais profundas.
Ah, como é bom você ser domando por aquela vontade de fazer algo, de ser alguém para outra pessoa, de conhecer o mundo e fugir por todo ele. Essa irracionalidade tão pré-julgada que as pessoas tem medo de experimentar, mas que proporciona momentos únicos para aqueles que dela bebem
Intensidade é mais do que paixão, pois ela é um dos ingredientes dessa característica. É como se fosse uma droga, que não prejudica, que depende de você para mantê-la. Felizes os que conseguem mantê-la constantemente, que conseguem deixar sua marca por onde passam e que mexem com um ambiente apenas com seu amor por viver, com sua alegria de estar presenciando um momento.
A intensidade só não é permanente porque se fosse, seria comum. E isso é uma coisa que ela não é. Não é em excesso, porque se fosse em excesso faria mal. Ela é na medida certa, nos momentos certos.
Você consegue sentir? Consegue pressentir ela crescendo dentro de você mesmo?
Corra, abrace, faça amor sob o céu estrelado, durma de conchinha, corra pela praia, tome um banho de mar. Faça tudo que achar que deva fazer, não se arrependa.
Sentimentos bons não são para ser remediados, contados. Eles vem quando vem e devem ser usados sem contra-indicações. Você não sabe o que se passa, apenas sente, como deve ser. Intenso.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Nuvens

Sei lá. Venho sentindo essa vontade de refletir sobre tudo, ultimamente. Essa coceira que começa com uma frustração ao perceber alguma coisa, que se segue pela vontade incontrolável de escrever aqui. Peço desculpas se te aborreço com minhas ideias, minhas reflexões e todo esse blablabla... Mas tem que ser posto pra fora de algum modo.
Sabe, eu me sinto manipulado, me sinto viciado, acima de tudo cansado. De que? Dessa vida que levamos, o que mais seria? Desse nosso apego extremo sobre as teconologias, as redes sociais, os meios de comunicação, sobre o modo que vivemos em sociedade, e de como não vivemos mais. De como deixamos a vida passar, sem percebe-la.
Não sejamos omissos. Quem aqui não perde horas e horas do seu dia em frente a um computador, olhando fotos dos outros, conversando com eles, postando frases e fotos, ou apenas olhando tudo, e de novo, de novo, e mais uma vez...
Nos tornamos escravos coletivos. E digo coletivo, porque se uma pessoa se arrisca a isolar-se, ela é excluída do mundo. Hoje em dia tudo é marcado on-line, tudo se comenta virtualmente. Hoje em dia, se passa de foto em foto e a cada uma cria-se um pensamento, um julgamento.
É para isso que ficamos em frente às telas o tempo todo. Queremos saber o que está acontecendo e para já. Queremos ver o que fulano e ciclano fizeram, e como estavam, com quem estavam. Queremos julgá-lo por como aparece em sua foto, queremos comentar e rir com nossos amigos daquilo.
Fui acostumado a crescer longe dessas inovações. Não sei o que tenho que não consigo gostar. E quando digo gostar, é só isso mesmo. Afinal, como todos sabem, também sou um escravo digital e quase que integralmente.
Não sou hipócrita, não quero criticar quem gosta disso. É só que isso me deixa agoniado, me deixa vazio. É como se não existissem amigos de verdade hoje em dia, perceberam como está mais difícil?
O que se faz hoje, o que se conversa é sobre como fulana está gata em tal foto, em como ciclana está vulgar (pra ser educado). Sobre a festa que se vai na sexta, e no sabado, e no domingo, e na segunda... O mundo corre rápido e mais rápido, e gira e gira... Mas ao mesmo tempo não o vemos girar.
Ou você vai dizer que sente as horas passarem? Que quando se está no facebook o tempo não voa? Que quando se viu, não fez nada do que tinha para fazer, nada de útil, porque se perdeu nos comentários ou nos bate-papos?
Hoje depois do trabalho eu resolvi sentar na praça do condomínio. Estava um fim de tarde ótimo: céu azul, um pouco quente, mas na medida certa, algumas nuvens pelo céu... E foi quando eu observei as nuvens e vi como elas se movimentavam, e como o céu ia mudando de cor conforme o tempo ia passando, conforme a sombra ia crescendo, que eu percebi quanto tempo eu havia passado sem reparar no mundo andando.
Vivemos dentro de nossas mentes e de nossas celas, muitas delas virtuais. Quando crianças observamos tudo. Lembra como era curioso qualquer novidade que víamos? Qualquer coisa era possível, pois não tinhamos limites. E hoje? Estes limites existem dentro de cada um de nós, criados por suposições nossas de como seremos julgados caso fizermos isso e aquilo.
Me perdoem pela quantidade de texto, mas o desabafo é necessário. Imaginem isso tudo dentro da minha cabeça, martelando...
Sinto falta de uma vida onde eu consiga observar o tempo passar, onde o computador não seja uma extensão de mim mesmo... Quem diria, eu poderia estar escrevendo isso em um papel, não é? Viu como são as coisas? Tenho saudades de quando eu usava meu tempo observando como uma árvore reagia ao vento, ao invés de ficar vendo fotos do mundo, sem realmente conhecê-lo...
É complicado isso. E não tenho solução para tal, jamais foi minha intenção ao escrever isso.
Tenho sede de vida, tenho sede de respirar de verdade, de observar e de sentir de verdade.

domingo, 14 de outubro de 2012

Escolhas

Era uma noite de lua cheia, no qual as estrelas eram ofuscadas pelo brilho daquele globo prateado bem no meio do céu. O clima era ameno, o barulho quase inexistente. Talvez só não totalmente mudo, pelo calmo e baixo respirar de um bebê que dormia despreocupado em seu berço, sob os olhos de um pai que com um leve sorriso o analisava de cima a baixo, como quem não consegue acreditar no que está vendo, um sentimento de amor profundo em seu peito. Amor este como só existe entre família.
O jovem rapaz, com seus trinta e poucos anos, mal conseguia acreditar que aquela pequena criatura que descansava silenciosamente, e que há dez minutos atrás postava-se a chorar descontroladamente, havia saído como um fruto de seu amor por sua esposa. Como era incrível.
Deixou-se levar pelos seus pensamentos, não havia como não observar o pequeno garoto sem pensar em seu longo futuro. Estava animado por ter de ensinar ao seu bebê os primeiros passos, a falar "mama", "papa", a ter que ajudá-lo a se levantar de seus muitos tombos nas brincadeiras que faria. Seu coração acelerava só de imaginar.
De repente sentiu um frio em seu peito. Ao dar seus primeiros passos, seu filhinho estaria rumando para a independência, para o futuro, para o crescimento... Ah, mas ainda teria muito tempo com ele. A escolinha, os primeiros romances, teria que ensiná-lo a praticar esportes, quem sabe não seria um grande corredor como o pai?
A cena veio a sua mente, ele quinze anos mais velho correndo lado a lado com o jovenzinho. Talvez até perdendo para ele. Riu sozinho no quarto, cuidando para não fazer barulhos demasiados que pudessem acordar o bebê, ou mesmo sua esposa que repousava depois de dias cansativos de recuperação.
Ao mesmo passo que abriu seu sorriso, o fechou. Lembrou de quando era mais novo, de como não gostava que sonhassem futuros para si, de como queria construir seus próprios hobbies, seus próprios interesses, de como era rebelde em sua adolescência. Isso tudo se repetiria com seu filho? Provavelmente.
Crianças são seres humanos como quaisquer outros, indivíduos, pessoas com suas próprias necessidades. Imaginou seu filho acreditando que tudo era possível, crescendo querendo ser um astronauta, um piloto, pensando que pode fazer o que quiser. Na realidade, poderia mesmo. Tentou visualizar ele apaixonando-se pela primeira vez, dando seu primeiro beijo, seu primeiro relacionamento. Ah, como haviam coisas para se fazer e aprender nessa vida.
Em seguida viria a faculdade, a fase de aproveitar a vida e onde provavelmente pararia de acreditar no amor até se apaixonar de verdade. Onde teria o primeiro contato com a vida dos adultos, onde nem tudo é possível. Sentiu uma ponta de medo, não queria que seu filho passasse por isso.
E se o choque fosse tão grande que ele quisesse largar tudo e viajar como um andarilho, igual a estas histórias que ouve-se por aí? Como seria viver assim, à mercê da sociedade? Como viveria ele, o pai, sem saber notícias de seu filho, sem saber se estava bem, imaginando-o passando frio e fome. Talvez vivesse mais feliz do que essas pessoas aprisionadas no sistema, como chamavam. Talvez fosse mais feliz do que pudesse imaginar.
Seus olhos vislumbravam o nada enquanto filosofava. O engraçado é que preocupava-se tanto com alguém que alguns dias atrás nem sequer existia. Curioso como as coisas aconteciam na vida.
Olhou para seu relógio, já estava há um bom tempo ali. Abaixando-se cuidadosamente, postou-se a beijar a pequena testa do bebê. Ele nem acordou. Sorriu novamente, e finalmente encontrou a resposta das perguntas que estava se fazendo: não há como saber. Pessoas nascem sem medos, sem preconceitos, sem definições e sem parâmetros: tudo é possível na cabeça de alguém que acabou de nascer. Conforme se cresce é que absorvem-se experiências, que ouvem-se os primeiros nãos e criam-se os primeiros muros. Mas isso varia de ser para ser. Esperava o melhor para seu filho, mas sabia que para o seu bem era preciso deixá-lo experimentar, absorver, viver.
Respirando profundamente, deitou-se em sua cama pensando em sua vida e como estava feliz por tudo. Pelos momentos ruins e pelos bons como esse. Fechou seus olhos lentamente, deixando-se levar pelo peso do sono de um pai que pouco dorme em função de seu novo filho, mas que estava seguro de que acontecesse o que fosse acontecer, e estivesse onde pudesse estar, apoiaria seu filho incondicionalmente em suas escolhas conscientes.