sábado, 25 de agosto de 2012

Medo

Por várias vezes, neste mesmo blog, eu falei sobre morte, sobre desafios, escolhas e eventos de minha vida. Mas nunca eu tirei um tempo para falar de algo um pouco mais íntimo e que desvenda um pouco mais sobre minha própria personalidade.
Seres humanos sentem medo, é natural, é o instinto falando. Sem o medo, seríamos inconsequentes. Alguns temem o escuro, outros temem os mortos, pessoas temem pessoas... São características que nos definem, que moldam nosso jeito de ser e como reagimos a certas circunstâncias.
Vocês bem sabem que da morte eu não tenho medo. Chegará minha hora e devo aceitar, apesar de que ficarei muito triste pelos que possam sofrer minha perda. Realmente isso me deixa nervoso, mas não com medo.
Mas então, serei eu um destemido corajoso que não teme nada? Não. Aliás, acredito ser impossível uma pessoa não sentir medo de pelo menos alguma coisa, por mais que negue sempre temos nossos monstros vivendo dentro de nós mesmos.
Pensando profundamente, cheguei a conclusão de que somente duas coisas podem me deixar com muito medo. A primeira delas... bem, não vem ao caso agora. A segunda, que é o motivo de estar escrevendo este texto, essa sim tem o poder de me deixar noites sem dormir, de despertar dores profundas em meu estômago e implantar a pior dor de cabeça do mundo em questão de segundos.
O que seria esse medo?
Eu vos digo: eu tenho medo de ficar sem dinheiro.
Calma, não me julguem por fútil ou algo parecido. Sei que a felicidade existe mesmo para aqueles que vivem à mercê da sociedade. Mas vivo em uma situação hoje que muito me preocuparia acordar certo dia e descobrir que não tenho nada.
É triste a realidade em que vivemos, onde tudo depende de um pedaço de papel com um valor escrito. Ou pior, onde um número em uma tela eletrônica indica o que você pode fazer e até quando sua liberdade pode continuar.
Já imaginou acordar certo dia e dar-se conta de que você não tem dinheiro para pagar o seu aluguel? Onde você irá morar? E que não tem dinheiro para pagar suas contas? A luz, o gás, a internet... Pior ainda, que não há dinheiro suficiente para um almoço. Quantos dias você aguentaria sem poder comer? E se não tivesse dinheiro para pegar um ônibus? Se suas roupas estivessem velhas e gastas e não pudesse comprar mais?
Tudo bem, coisas materiais. Mas você já reparou que hoje não se tem amigos sem dinheiro? Ou quando você combina de sair com seus amigos, para comer, ver um filme, jogar algum jogo, ou mesmo dar uma volta, nada é gasto? Se você não tem dinheiro, você não pode acompanhar seus amigos nas atividades que mantem suas amizades.
Acredito em amizades verdadeiras, que duram além disso. Amigos que pagam coisas uns para os outros, também. Mas sempre tem que haver a recíproca, não é?
O pior fato de todos: já pensou, além de não ter dinheiro, você morar longe de sua família? Do seu suporte de todas as horas? É. Você não teria como ir até eles, entrar em contato com eles, pedir ajuda.
Julgamentos a parte, este é meu segundo maior medo. Profundo, intenso, de me tirar o sono, fazer meus cabelos caírem e minha idade avançar mais rápido. Talvez seja por isso que muito me perco em filmes como Into the wild, livros do Amyr Klink, histórias de pessoas que vivem um passo a frente da construção de nossa sociedade. Mas ao mesmo tempo, acho impossível eu ter uma vida fora do sistema...
Não sei, medos costumam ser confusos e o meu não é diferente.
Algo para entender melhor o que estou falando é o filme "O Preço do Amanhã (In time)". Quando o vi, senti meu medo construído na tela de minha televisão.
Sabe como deve se sentir alguém preso a uma jaula, com pouca luz e sem ter o que fazer sobre sua situação? É exatamente assim que eu me sentiria se um dia não tivesse dinheiro. Sonhos são lindos, planos podem facilmente ser desenhados. O fato é que a vida de adulto nos traz um desprazer muito grande, e esse desprazer é saber que para realizá-los é sempre preciso alguém para custeá-los...