terça-feira, 22 de março de 2011

Janela

Lucas estava mais uma tarde em seu trabalho. Fazia um lindo dia do lado de fora de seu escritório. De sua janela conseguia ver as pessoas indo em direção à praia. Carros e mais carros passavam, alguns vermelhos, outros pretos, alguns cinzas e outros de diversas cores, cada um com uma pessoa feliz, seu som alto, rapazes sem camisa, garotas preparando os apetrechos para o banho de sol, alguns até passavam com as pranchas de surf presas ao capô do carro.
Ele estava entediado, cansado. Não tinha férias há dois anos, devido a mudanças de trabalho, aulas na faculdade, e diversos outros eventos. Estava irritado em ter que emitir mais relatórios, mais boletins de desempenho, mais projeções, fazer isso, fazer aquilo e ver a vida passar do lado de fora de sua janela. Sentia saudades de sentir o vento bagunçando seus cabelos, de ouvir o canto dos pássaros, de sentir a calmaria que era apenas andar na calçada em um dia tranqüilo de vida. Faria qualquer loucura para ter um pouco mais daquilo.
Foi quando a oportunidade surgiu. Seu chefe pediu para que ele fosse estacionar o carro dele em outro lugar. Lucas não pensou duas vezes. Pegou as chaves e rumou em direção ao carro. Seu corpo já sentia a adrenalina aumentando e seu coração já batia mais acelerado.
Entrando no carro e acelerando rumo a rodovia que ali próxima existia, o jovem pôs-se a dirigir com toda vontade. Abriu todas as janelas e sentiu o vento percorrer todo seu corpo. Com uma das mãos arrancou a gravata que tanto o sufocava e pôs o óculos-de-sol que estava no banco do passageiro.
Que sensação, que paz estava sentindo. Como era gostoso aquela brisa, ver o mar ao longe brilhando com o reflexo da luz daquele sol, daquele dia quente de verão.
Dirigiu com todo seu ânimo em sentido à praia. Seu celular tocou, ele nem se deu ao trabalho de ver quem era, apenas desligou e aumentou o volume da rádio. Um sentimento de liberdade percorria suas veias, e ele não queria saber de perdê-lo.
Estacionou à beira da praia, lentamente tirou seus sapatos, sua camisa e suas meias. Dobrando sua calça até a altura do joelho, caminhou em direção à areia, parando apenas para comprar uma cerveja no caminho. Sentou-se e sua audição foi inundada pelo barulho das ondas a quebrar na orla.
Respirou fundo, uma respiração pura, uma respiração de paz. Tomou um gole de sua cerveja gelada, que desceu como água naquele dia de calor. A brisa pôs-se a varrer seus cabelos novamente. Dessa vez não apenas via as pessoas felizes correndo, brincando, rindo... Dessa vez ele estava entre eles.
A sensação que ele estava tendo não era apenas pura liberdade, não era apenas um sentimento livre de culpa. O que ele vinha sentindo era a VIDA! A vida de um jeito que não se era possível sentir em frente a um computador ou assistindo à televisão.
Não sabia o que aconteceria quando voltasse para o escritório, isso resolveria depois. Sabia apenas que a vida fora feita para os seres humanos valorizarem e que de hoje em diante ele faria isso. Mas no momento queria aproveitar o agora, observar a natureza e sentir-se vivo, como não se sentia há muito tempo.

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