quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Luiz tem uma boa vida

Luiz tem uma vida muito boa. Bom trabalho, boa universidade, boa educação, bom salário e bons relacionamentos.
Todos os dias ele acorda cedo, toma seu café da manhã, seu banho matinal, corre para pegar os mesmos dois ônibus, chega no trabalho e faz suas atividades durante todo o expediente. Em seguida, pega os mesmos dois ônibus para a faculdade, onde senta por quatro horas ouvindo pessoas que detém um grande conhecimento e o passam para ele através de aulas expositivas. Enquanto um burro fala, o outro baixa a cabeça.
Luiz então segue para sua academia, fazer seus exercícios diários. Não se pode deixar de fazer exercícios. Lá se vão mais duas horas de seu dia, como um hamster de estimação em sua gaiola.
Nem sempre ele consegue tempo para estudar, nem sempre ele consegue tempo para fazer as coisas que quer, mas sempre está em suas redes sociais, em contato direto com seus amigos, conversando, brincando, rindo, sem nunca vê-los pessoalmente.
Do amanhecer do dia até o apagar das luzes na hora de dormir, ele está rodeado de computadores e sistemas inteligentes como o seu celular. Agora todos podem saber onde ele está e o que ele está fazendo.
A vida de Luiz é muito boa, ele tem tempo para aproveitar várias festas, onde se distrai da rotina e faz algo de diferente. O pão está servido e o circo montado.
Seu dinheiro nem sempre dá para o mês todo, mas não importa, o crédito é fácil. O que importa é gastar, tudo para fugir da rotina.
Ele também realiza provas, onde tem que colocar exatamente a resposta que seu professor quer. Pensar? Para que? Filosofar sobre a origem das coisas? Só na aula de filosofia, mas mesmo assim não é o que seu professor pede em seus testes.
O jovem sabe que a matemática não é exata, mas sim uma invenção do homem para controlar coisas. Ele utiliza somente um método de cálculo, o ensinado por seus professores, apesar de saber que existem mil outros que eles não repassam. A resposta? Deve ser do jeito como foi ensinado, porque é o correto, o cientificamente correto.
Ah a ciência. Toda baseada em experimentações, tão... exata. Tão exata que não sabe explicar por que os homens são da forma como o são, pensantes, inteligentes. Que não sabe explicar por que usamos apenas 10% do cérebro e quais as outras capacidades dos 90% restantes.
Ele sabe que cada pessoa vê o mundo de acordo com suas características físicas. A mesma mesa pode ser mais fria ou mais quente para pessoas diferentes. A árvore mais verde ou mais escura, mais detalhada ou mais desfocada. Mas não, existe um correto para tudo, isso que ele aprende na sua universidade.
Mas é normal da sua sociedade. Organização de pessoas esta, que se baseia em regras, que se baseia em valores (?), em julgamentos, em preconceitos e impressões pessoais. Mas que funciona.
Luiz tem uma teoria. Ele acha os seres humanos incríveis, afinal conseguiram criar um mundo fictício e transformá-lo em realidade, realmente acreditar que ele existe, mas que quando veem alguém que está deslocado deste mundo, sabem como isolá-lo e evitar que contamine mais pessoas.
Mas é o mundo em que vive. Um mundo colorido, que se esconde atrás de um preto e branco de filmes antigos americanos. Um mundo onde você é livre, mas não consegue ir até a cidade mais próxima a sua apenas por livre e espontânea vontade. Um mundo surreal, que se diz real e que busca entretenimentos surreais para compensar as tristezas de uma rotina que se diz natural, mas que foi inventada pelos homens.
Luiz tem uma vida muito boa. Bom trabalho, boa universidade, boa educação, bom salário e bons relacionamentos. Boa vida essa que Luiz tem.

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