Lucas estava mais uma tarde em seu trabalho. Fazia um lindo dia do lado de fora de seu escritório. De sua janela conseguia ver as pessoas indo em direção à praia. Carros e mais carros passavam, alguns vermelhos, outros pretos, alguns cinzas e outros de diversas cores, cada um com uma pessoa feliz, seu som alto, rapazes sem camisa, garotas preparando os apetrechos para o banho de sol, alguns até passavam com as pranchas de surf presas ao capô do carro.
Ele estava entediado, cansado. Não tinha férias há dois anos, devido a mudanças de trabalho, aulas na faculdade, e diversos outros eventos. Estava irritado em ter que emitir mais relatórios, mais boletins de desempenho, mais projeções, fazer isso, fazer aquilo e ver a vida passar do lado de fora de sua janela. Sentia saudades de sentir o vento bagunçando seus cabelos, de ouvir o canto dos pássaros, de sentir a calmaria que era apenas andar na calçada em um dia tranqüilo de vida. Faria qualquer loucura para ter um pouco mais daquilo.
Foi quando a oportunidade surgiu. Seu chefe pediu para que ele fosse estacionar o carro dele em outro lugar. Lucas não pensou duas vezes. Pegou as chaves e rumou em direção ao carro. Seu corpo já sentia a adrenalina aumentando e seu coração já batia mais acelerado.
Entrando no carro e acelerando rumo a rodovia que ali próxima existia, o jovem pôs-se a dirigir com toda vontade. Abriu todas as janelas e sentiu o vento percorrer todo seu corpo. Com uma das mãos arrancou a gravata que tanto o sufocava e pôs o óculos-de-sol que estava no banco do passageiro.
Que sensação, que paz estava sentindo. Como era gostoso aquela brisa, ver o mar ao longe brilhando com o reflexo da luz daquele sol, daquele dia quente de verão.
Dirigiu com todo seu ânimo em sentido à praia. Seu celular tocou, ele nem se deu ao trabalho de ver quem era, apenas desligou e aumentou o volume da rádio. Um sentimento de liberdade percorria suas veias, e ele não queria saber de perdê-lo.
Estacionou à beira da praia, lentamente tirou seus sapatos, sua camisa e suas meias. Dobrando sua calça até a altura do joelho, caminhou em direção à areia, parando apenas para comprar uma cerveja no caminho. Sentou-se e sua audição foi inundada pelo barulho das ondas a quebrar na orla.
Respirou fundo, uma respiração pura, uma respiração de paz. Tomou um gole de sua cerveja gelada, que desceu como água naquele dia de calor. A brisa pôs-se a varrer seus cabelos novamente. Dessa vez não apenas via as pessoas felizes correndo, brincando, rindo... Dessa vez ele estava entre eles.
A sensação que ele estava tendo não era apenas pura liberdade, não era apenas um sentimento livre de culpa. O que ele vinha sentindo era a VIDA! A vida de um jeito que não se era possível sentir em frente a um computador ou assistindo à televisão.
Não sabia o que aconteceria quando voltasse para o escritório, isso resolveria depois. Sabia apenas que a vida fora feita para os seres humanos valorizarem e que de hoje em diante ele faria isso. Mas no momento queria aproveitar o agora, observar a natureza e sentir-se vivo, como não se sentia há muito tempo.